quarta-feira, março 03, 2010

Saudades e a cor do céu

Estava preso àquele ontem, onde os teus olhos a minha alma compreendiam… As mãos inseguras teimando em fechar-se longe da beleza como se apenas os suspiros soubessem qual a cor do céu quando apaixonado. Se calhar já a viste… afinal, os sonhos têm sempre o fascínio de dar à aurora, qualquer verdade que o coração dita.
Encontrava-me só… e sabia que, onde me encontrava, tinhas dado os teus passos, um sorriso crescendo a cada instante como quando os meus olhos nos teus poisavam. Eras tu que dava alegria ao vento…
A música e as palavras que ouvia não eram as tuas (não cantas… mas és mais do que melodias…), e, por isso, não me deixavam beber da paz… aquela sensação que me absorvia ao sentir-te ao meu lado.
Escrevia… e mais depressa desejava adormecer, poder sonhar que estávamos juntos… e que juntos daríamos aos lábios um outro rubor. As lembranças impressas no fundo da alma como um tesouro por descobrir… Sim, apenas nós o descobriríamos e mais ninguém sentiria o calor dado à terra sob os nossos pés… pois esse era o calor dos nossos corações, a vibrante energia de termos saudades e nostalgia, vontades e magia, a liberdade de se deixar perder no corpo de cada um, fosse qual fosse o sonho sonhado.
Aos meus olhos surgiam terrores… a impúdica água que limpa as janelas da alma e deixa a voz a tremer. Sentia-me bem por estar calado, os dedos segurando a caneta enquanto rabiscava o esqueleto de mais um texto… o teu texto… o que escrevi, e tinha a tua doçura, sempre foi mais teu do que meu.
Lembro-me de quando te foste embora… os meus olhos pousados num livro, os meus olhos viajando à tua procura… Sempre me pareceste o Sol iluminando a minha alma… Sim, eu, a Lua, que sempre precisou do teu brilho, desse feitiço que abria-me os horizontes e via-me a voar para além das nuvens… o eterno manto que abriga a tristeza e a escravidão.
A tua voz é a minha embora um acordo tácito nos faça separá-las, levando os desejos à distância, os sonhos ao esquecimento, a carne viva a estátuas já em ruínas. Cada uma dessas estátuas sendo nós os dois em momentos passados, poses e movimentos pelos tons de luzes e sombras decorados.
Fomos muito em tão pouco tempo e, mesmo assim, tão pouco a declamar (dói gritar…), como prova de que nos une mil pontes, mil segredos e outras tantas riquezas e fontes ansiando por serem descobertas. As palavras nunca murcham e os olhares nunca se estagnam… apenas o sorriso persegue o sono por ser tão doloroso ver, ao longe, tão doce fogo e sentirmo-nos já em cinzas.
A noite é uma longa espera e, sozinho, só me resta dormir…

Sem comentários: