quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Libertinagem!
É esse o segredo para não provocar o tédio...
Escorres a tua seiva para a terra que viu-te nascer e vês lampejos de um hábito insonso, cortejas o erotismo como se dançasses o tango e pouco te importas com o sono que concorda em ter-te como servo pois tu, de pijama, corres por entre os sonhos como se fosses um selvagem embriagado, cantando todas aquelas palavras que são meritórias de um pódio e sorrindo porque a única sessão onde pintas quantas cores quiseres é um golpe na pacatez, um desnorteado envolvimento entre as nuvens e o ópio. Se te viras para um lado e vês-te ao espelho como se fosses altivo é porque o outro, que está bem perto, está tapado com uma película leitosa. Nesse, se passasses algum tempo a limpá-lo, até poderias ver os teus defeitos, mas que importa? Queres continuar a saltar por cima das poças de água, brincar com aquelas folhas que ainda se agarram às árvores e cravar as unhas na terra húmida como se penetrá-la te desse gozo, enquanto imaginas o que é estar a sentir o corpo de uma mulher já nua, acariciá-la de uma forma que sabes que fica bem ao orgasmo, tudo porque os suspiros são sempre uma melodia inigualável e tudo porque te cativa uma solenidade iniciada pela erecção febril. Mal sabes que, ao longe, uma outra serpente, tão descuidada quanto tu, maltrata a planície sequiosa de certos movimentos incontroláveis, tudo para ao fim do dia gozar com o delicioso sabor de um... crepe!
... ou donut! O que ficar bem...
...
Acaso disse antes que hoje estava são? ;)

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Todas as palavras que te escrevi nunca tiveram o sabor desse teu beijo...
Hipnotizaste-me... Levaste todo aquele desejo de estar em qualquer outro lado...
Sim, já muitas vezes respondi à paixão com a esperança, para depois cair sem ter qualquer resposta que me fizesse brilhar. Só que, contigo, foi diferente... Talvez porque tivesse sentido que o meu toque tenha se distanciado do teu coração é que vivi todos estes anos onde ninguém existia.
Construí, preencido pela melancolia, rodeado pela glória da Natureza, um jazigo onde as minhas lágrimas enterrava, suspirando o teu nome vezes sem conta, pedindo ao vento para te levar este amor, gritando até ao universo que o mais importante é o fogo que arde dentro de quem vive sem nada destruir. No entanto, nenhuma resposta recebia... Sempre foste mistério... Apenas o teu olhar brilhava, a tua boca abria-se num majestoso sorriso e a tua voz acariciava-me com encantos que....
Não!!! Não!!! Não!!!
Não me quero lembrar!!!
Já basta a agonia deste sangue que corre nas minhas mãos... o meu... que ofereço à terra... por mais ninguém poder viver em mim.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Repara!
Eu não sou diferente de ti!
Apenas tenho uma determinada loucura que me faz escolher um agonizante momento para sorrir, divagar por todo aquele tremor que empalideceu o "ontem", que impele qualquer lágrima ao "hoje" seduzir e deixa-me vaguear por vales ansiando por voar quando a vida sobe montanhas.
Se canto toda uma imperfeita alegria, descobres que a minha timidez é frémito escolhido pelo vento.
Se grito mais alto do que um trovão, a tua alma ouve-me sem conseguir responder.
Por isso, quando eu estiver ao teu lado, olha-me nos olhos, talvez assim saberás porque o meu coração bate por ti...
Há uma parte de mim que sorri, outra que já há muito morreu.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Uma tempestade num copo de vinho

I

Uma terrível tempestade fustigava a cidade e nada me confortava neste recanto tão especial para o meu coração. A noite era ainda mais escura porque tinha faltado a luz e apenas uma vela iluminava a minha coragem no sótão onde vivia. A vela, tão cativante, profunda e misteriosa quanto um devaneio igual a uma alma estonteada, aquela que é pobre demais para compreender a arte, conquistava o irrequieto estertor de um arrepio; aquele desejo de escrever que sucumbe quaisquer sombras que o infortúnio conseguiria criar.
Não me importava que o vento bailasse assustadoramente através da cidade, a chuva retinisse em terríveis sons que levassem qualquer criança a esconder-se debaixo de um cobertor porque eu, intrépido, escrevia o que a alma fazia cair: todos aqueles desejos e sonhos, lembranças e conquistas, virtudes e sensações, sendo deixados a tinta negra num papel antes virgem.
Quem estima a literatura, bem sabe que não há palavras sóbrias quando se toca todas as impurezas de um juramento, este providenciando certas sinuosidades que a claridade não alberga. Talvez a inspiração possa ser como uma flor que se guarda na mão de uma mulher vistosa, que se abre, violenta e maliciosa, além de qualquer cenário escarrado pelo ser humano. As sombras, que passeiam em delírio, deambulando como num cortejo fosforescente, têm máscaras que nunca caem e um sorriso que só a loucura conhece.

II

Porque há que tentar ser um bom escritor, desenvolvo…
Este relato surge porque também há momentos em que a inspiração é motivada quando o espírito cambaleia, o sol é uma imagem longínqua e a lua se esconde por detrás de um manto arrepiante.
Enfim… A candura de um início já tinha passado e os contornos de várias experiências tinham-me adulterado a percepção pois compreendia a satisfação e a insatisfação, quaisquer extremos que levam a compreender o porquê de haver sentimentos que corroem o íntimo e o porquê de se pensar em tanto que nos enferruja a vontade de caminhar. Talvez pudesse brincar numa avenida quase vazia, exibir-me tal como vim ao mundo ou observar o que os outros fazem à beira-mar, ser um voyeur, um lamentador, tudo menos um pálido habitante de uma cidade ainda mais pálida.

III

Enrubescia…
Após mais um golo de um soberbo vinho, altivo reparador de maleitas, sentia a imaginação cortar amarras a uma solidez que a realidade tão bem conhecia. Enlevado pela situação, os meus sentidos eram tão desiguais quanto o meu espírito. Não me interessava escrever o que outros compreendiam, apenas fazer das palavras um caminho com muitos atalhos.
Lembro-me… Lembro-me de um cálice de vinho perfumado pela sensualidade, um sabor divinal espalhado pelos lábios de uma mulher que ainda me invade os sonhos, uma beleza vaidosa que induzia à ascensão de maravilhas onde a riqueza queimava qualquer negação que pudesse ter. Era esta a poesia desenhada para adornar qualquer reino, sorte a minha que adornava o meu.

IV

Ofuscado pelo prazer do ambiente, envolvido pela luz da vela que dançava de forma extenuante neste quarto que antes estava às escuras, sentia que o cálice de vinho brilhava como se quisesse conceder o condão de entrar em outros mundos. Estes, tão febris quanto os que desejava conhecer, talvez não fossem inocentes mas o desconhecido nunca me apoquentou. Afinal, sempre quis descobrir algo mais interessante do que a palidez de uma rotina bem desenhada e a presença de sombras sempre me fizeram bem. Digo isto porque a fantasia não deverá ser apenas deixada para quando se sonha mas há que molhar a paciência, apartarmo-nos de quaisquer contrariedades e deixarmos uma porta aberta à investigação, à experiência, à elevação e à queda. Se apostarmos demasiado em floreados, talvez percamos muito do que reluz e as coisas que realmente interessam envelheçam antes do tempo, deixando-nos sozinhos, como se apenas um quarto escuro fosse a nossa realidade. A verdade é que a sombra é a beleza já caída quando o ser padece de todas as dores…
Não! Nunca fui amigo de lugares insonsos, preferindo a alegre ebriedade dos artistas que conhecem mais do que o dinheiro, cuidando do desenvolvimento do intelecto mesmo que a vida providencie insensatos balanços. As minhas pretensões eram o cuidar da minha arte com o requinte dado às palavras, quer sejam a fineza de uma sexualidade enrubescida, quer sejam uma mistura de loucura com selvajaria.

V

Que nunca se esqueçam…
Há momentos em que a vela é uma bendita inspiração que faz os aventureiros percorrer mais do que os cobardes pretendem porque estes últimos gostam de ficar sentados em cima da vã glória que conquistam, remoendo os seus muitos falhanços e detestando os que partem para longe. Se estes dão notícias, pode-se não saber, também quem morre nunca o dá… a não ser que volte como uma miserável imagem do que foi. Por vezes, os sonhos mostram que tudo é melhor do que parece mas nem sempre se pode contar com a fantasia. Para quê, dizem uns? Viver é preciso! Sim, claro que é mas viver sem sonhar não é vida que se deseje. Afinal, para quê passar de um dia para outro se nada de diferente se espera?

VI

Magoa-me viver sozinho, ser um poeta criado pela nostalgia, suspirar as ténebres teias de um reles caminho onde não há alegre feitiço nem vontade de ver o dia…

VII

 Toldado pela embriaguez, tenho a dor de não ter qualquer fortuna. O meu sangue tem o sabor de um vento que conduz os mortos, porque eu, cativado pela ilusão de ser criador, caminho com hábeis passos, adornado apenas pela boémia do bom bebedor. Tal e qual um patético malabarista, brinco com a alegria e a tristeza, a mediocridade e a nobreza, mas fujo da apatia que é não saber chorar. Tenho apenas um sorriso ingrato, esse que não conhece a pureza de viver sem amar a dor…
Chamam-me louco, mas não sou mais de quem se esconde por detrás de absurdos, de quem esgrima pela vida como um bruto e traduz amor por dinheiro. Se minto, é porque não quero que conheçam a minha alma. Esta, sempre foi rasgada pela ténebre elegância que o dia nunca quis ter…

VIII

Não! Não sei ser pacato… Desde que nasci que grito para que o universo saiba que estou vivo embora as minhas façanhas nada tenham que respirar o mesmo ar de outros. Afinal, porque deveria contar as mulheres que já aqueceram o meu corpo, as bofetadas que já levei na cara, as lágrimas que já fizeram-me cair? Todos temos sonhos que despertam o apetite, uma história de amor gravada numa árvore, apenas o peso da madrugada podendo fazer-nos adormecer. Mesmo assim, nunca saciamos o esquecimento porque existem aqueles delírios que actuam como fotografias desfocadas que nem o nevoeiro consegue imitar. Se certos beijos não nos interessam, tal é porque são demasiado frios para o coração, vagas impressões desconcertadas acabadinhas de sair de uma volúpia visceral que nos aperta o âmago. As melodias que criaram para nós acabando sozinhas, quase esquecidas, ondulando levemente rumo ao vazio…

IX

Apreendendo como véu a estranha conformidade da chama dançante, as figuras que formava na parede sendo tapeçarias de cores sombrias, sentia a tempestade como se fosse um eco revitalizador. A minha sede exigida pela inspiração nada significava além de um prémio que rugia em prol da arte. Todos os artistas moram à beira de um precipício e, se não caem, é porque há demónios a desejar vê-los sofrer…

X

Sim… Nesta noite de espelhos sombrios, provava um líquido que apertava menos o íntimo, que refulgia o meu querer com a vontade dos neurónios embriagados que nada de cansados ficam quando cobertos por uma insanidade temporária. Bem, chamar isso de insanidade e, ainda para mais, de temporária, é esquecer que o escritor resvala em sinuosidades nada benéficas para a harmonia. Pois, o artista que não sabe que é mais rico do que tudo o que o ouro poderá comprar, deve ser comparado a rosas já murchas e prestes a se tornarem cinzas. Não tem ideias apesar da grandeza da arte que lhe convém, segue os outros porque é preguiçoso e não quer lutar. Finge… Sim, finge que sabe muito mas não sabe inventar, não como, por exemplo… eu, que, quando bebo um trago desse delicioso néctar, assumo que a tempestade tem propriedades revitalizantes porque são os fantasmas que despejam as suas lágrimas numa terra encolhida pela evolução.

XI

Que acordem! O dinheiro não faz a alma crescer! É pálido, ignóbil, actua como vírus e mata qualquer sensibilidade. O que importa é saber sentir, criar, aprofundar o conhecimento, destituir a indiferença do seu trono. Fazer com que o sorriso volte a ter o seu lugar…
Podem pensar que muito do que crio é devido à perda de sanidade, àquela fragrância inusitada que se liberta de um certo copo e que me faz desenvolver um faro específico para procurar temas que têm a ver com o íntimo. No entanto, que outra enlouquecida propriedade além da inspiração ficaria bem a uma noite de tempestade em que a cidade ficou às escuras e só uma vela, uma caneta, um papel e um copo de vinho me separam do aborrecimento?

XII

Bem… Pondo de parte qualquer memória de manhãs adormecidas, cativado por uma sonolência conturbada, apago a vela e, querendo descansar de tudo, despeço-me.
… … … … … … … … … …
Adeus.

(texto que surge no vídeo-arte com o mesmo nome que fez parte da exposição "Toma-te o Vinho" concebida pelos "Mad Space Invaders" no IVBAM de 27/01 a 17/02.
Devido a ter quase 16 minutos, teve de ser dividido em duas partes de modo a poder ser visualizado no You Tube:

Uma tempestade num copo de vinho - Parte I
http://www.youtube.com/watch?v=vl-WUTQOPd8

Uma tempestade num copo de vinho - Parte II
http://www.youtube.com/watch?v=jRb6nQw2Z4I&feature=related

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

III – Tempestade

Escrevo-te num papel manchado pelo vinho, inquieto pela sofreguidão da ebriedade, conquistado por palavras que roçam espinhos, que deixam traços de luxúria e mistério na alma. Os pensamentos laterais correm ali ao lado, têm os cintos apertados, a luminosidade invertida, as bordas estropiadas e um olhar sem remédio. Aqui, onde estou, é tudo directo, até a flecha que me trespassa o coração, que me pede para deixar um mundo adoentado, que me ensina a ser teu. Sim, sou um tanto avariado! Tenho poesia como um pranto enlouquecido, o meu coração toca melodias envergonhadas, aqueles cenários de mistérios prometidos ao futuro mas é hoje que te desejo, é hoje que não quero que vás! Aturdido, deixo o papel voar arrepiado e tremeluzente, como sentinela de um episódio delirante. Tem as nódoas de um ontem em que a fartura se acostumou a rir. E eu… Encantado, contemplativo e cheio de versos arrepiados pela sedução, hesito em divagar ainda mais sobre a minha loucura. Afinal, a harmonia é demasiado nobre para ser incomodada, e tu… Serás sempre parte da minha frutuosa devoção. Jorge Ribeiro de Castro Declamado pela 1ª vez a 16/02/12 na sala de exposição dos "Mad Space Invaders" no IVBAM

II- Incendiado

Que não me colem às coisas mundanas! Não sou espelho triturado pela hipocrisia, patético manjar dissimulado pela inquieta simpatia, qualquer convicção desgastada pela rude altivez. Sou somente um grito confuso, um estropiar libertino da tranquilidade, a ousadia de correr por terrenos enevoados, a necessidade de sorrir quando o sol adormece, a viajem de todas as personagens desamparadas, a urgência de criar no que antes estava em branco, de ridicularizar o presente com o abrir de asas. Não, não é para fugir! Não é para remeter a esperança ao mundo da cobardia, para me rebaixar ao nível da discórdia, para me lamentar dos dias de chuva em que a solidão me abraça, para chorar a mágoa traduzida em devaneios ou ser uma ingloriosa nota de rodapé na memória de uma dama. É apenas para não me deixar morrer, apenas para que não se diga: “Ela voltou e o poeta já tinha deixado de viver aqui…” Jorge Ribeiro de Castro Declamado pela 1ª vez a 16/02/12 na sala de exposição dos "Mad Space Invaders" no IVBAM

I - Perfume

O vinho, caros visitantes, é o capataz desta obra, a cortina de veludo que nada esconde do coração. Se não sou de promessas, por tudo em mim serem dissonâncias, a verdade é que as minhas palavras, arrepiadas por uma venenosa devoção, aquela de tapetes carcomidos pela terrível virtuosidade de querer apagar o passado, têm a doença de não conseguir esquecer a saudade… Ontem, escrevi o que a alma pedia mas não foi isso que me fez tremer. Foram os olhos dela que acariciaram a minha alma, a febre que o meu coração quis seduzir, todas as carícias que o meu corpo se lembrou. Hoje, caminho embrenhado nas névoas da entoação, tento abusar demasiado da serenidade, sorrir pela grandiosidade que anseio ter, a solenidade de um devaneio que me remeta à luz. Dizer ao dia: “Nunca de um outro me esquecerei…” Sabem… Diverte-me saborear os embaraços dos maldizentes, responder com bom humor aos reparos dos quase caídos. No entanto, satisfaz-me muito mais a paixão sem pudor, cortejar a boémia que o momento inquieta, Dizer à noite: “Se vivo, é pelo mais grandioso calor!” Jorge Ribeiro de Castro Declamado pela 1ª vez a 16/02/12 na sala de exposição dos "Mad Space Invaders" no IVBAM

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Se de mim parte aquela ansiedade por movimentos e gargalhadas, se de mim ruge aquela investida de carvão e sombras, se de mim estende-se a prosa desmaiada e a poesia caída, qual será o momento para alcançar o êstase, preferir um mundo onde a dor não conheça a minha alma? Talvez nunca... É preciso sofrer e ser louco para a bela arte criar...
- Porquê estás aqui?
- Porque é que um rio começa numa nascente? Porque é que a terra se abre para a água? Porque é que o sol aquece o nosso corpo? Porque é que as aves voam em sintonia? Porque é que as nuvens deixam-se levar pelo vento? Porque é que o sorriso de um bebé nos alegra? Porque é que a adolescência nos faz cometer tantos erros? Porque é que a velhice é por vezes venerada e outras vezes renegada? Porque é que dormimos melhor quando não temos problemas? Porque é que os sonhos nos fazem acordar cansados? Porque é que podemos dar uma volta ao mundo para conhecer tantas maravilhas e mal conhecemos o nosso vizinho? Porque é que o dinheiro é tão importante quando deveria ser a doce melodia da Natureza a nos inspirar para um melhor dia?
- Não entendeste... Pergunto porque é que estás em frente à entrada da minha casa desde a noite passada?
- Porque o frio não me importa. Porque não conseguiria dormir mesmo agasalhado na minha própria casa. Porque o meu coração arde desde o nosso primeiro beijo, aquele dado há tantas semanas atrás numa noite de euforia. Porque sei que hoje vais embora para longe e eu não conseguiria viver sem te dizer que te amo.
Hoje, colo-me à turva dimensão de um desconforto impertinente em que vagueia uma lágrima desvirtuada. Não brilha! Não geme! Apenas deambula por um recinto incolor e ri-se de todos aqueles soluços que me enfraquecem. A noite sujeita-me à provação, à banalidade que é estar sozinho, ao ilustre perfume que é estar cansado, ser uma alma querida que tem muito de reles... Hoje, tentarei guardar o coração nos sonhos...
Tenho o direito de adormecer, de querer viver séculos atrás, de me afastar deste momento, de sorrir sem que haja qualquer sombra a esfaquear...
Há que ser um poeta que gosta de esconder o que é, debaixo de máscaras tão brilhantemente engendradas, que nunca ninguém saberá que o romance se esconde debaixo de um olhar perdido e a tragédia se esconde debaixo de um sorriso tremido.
Nem tudo o que eu digo é a verdade! Escondo-a tão bem por detrás de um sorriso valente, rio-me da proposta que é mostrar o que é um belo sonho quando não estou contente, faço um drama da apatia, mostro que sou simpático e louvo o vento como se fosse a mais maravilhosa melodia e, no entanto, sinto que estou debaixo da terra, não muito confortável mas no meu espaço, onde desejo que apenas os sons menos ríspidos cheguem, ansiosamente esperando por aquele momento em que me tirem e me digam que não vale a pena lamentar, não vale a pena chorar, não vale a pena dormir para a vida! O que vale a pena é sorrir porque é a Arte que nunca deixa de me amar!!!
Há que haver aquela graça que nos seduz a repelir todas as sombras que nos fazem mal. Apenas as virtuosas solenidades que enlouquecem é que merecem o nosso sorriso!!! ^_^
I'm not here to be stable! I'm here to let a dark poetry slip from my veins and impress reality with a different kind of lunacy!!!
Há algo em mim que se parte a todo o momento... Talvez seja a lágrima já gélida que se solta lentamente porque o coração ainda quer bater.
Tudo o que já fiz, tudo o que faço e tudo o que farei são fragmentos da minha alma que brilham... embora não brilhem da maneira a que a vossa alma está acostumada a perceber.
Há sempre um sorriso à nossa espera quando nos olhamos ao espelho e a alma quer voar além de todos os obstáculos que surgem. :)
Tenho uma grande dificuldade em ser directo... Avanço pela narração como quem caminha por diversas sinuosidades sem alguma vez descansar, se gaguejo é porque encontro algo que não estava à espera, uma altura deveras insinuante que me diz algo mais do que estou a descrever. É como quando nos sentimos inebriados por uma certa bebida ou vemos um ser muito especial à nossa frente e o cérebro desliga-se da matéria. No meu caso, tento sempre ter o meu "espaço" mesmo quando estou fora do meu quarto. Não digo que seja sempre mas é bom quando o barulho que ouvimos não nos impede de ter uma certa harmonia. Não digo que seja aquela que muita boa gente conhece, afinal, a minha harmonia tem laivos de loucura. Isso talvez seja porque se me entendo como louco é porque me faz bem. Afinal, não tenho qualquer vontade de deixar de escrever aqueles textos menos.... hum... comerciais só porque dizem que assim não ganho dinheiro. Bem, para quem não sabe, eu tenho trabalho e ganho dinheiro! A escrita é para mim um grande prazer e isso só mudará quando não tiver a liberdade de escrever sobre o que sinto que tenho de escrever... ahhh O_o ufffffff
Nunca serei igual ao meu passado! Enlouqueci demasiado para voltar a ser tão inocente...
E enquanto me dizem para ficar, desligo-me da fala, rasgo a minha carne com o olhar, solto aquela lágrima que nunca quis conter, sorrio por conseguir silenciar os desafortunados lamentos que me tornaram aberrante. Afinal, sou uma verdade que nunca soube que era mentira...
Sim, sou eu, aquele que está estupidamente perdido para o dia! Talvez eu seja um poeta que adora a noite porque há sempre aquela luz enigmática que ilumina o pensamento, aquele romancear bravio que descarrila a segurança para além de quaisquer andanças sobre as belas nuvens que não tremem. Sinceramente, gosto quando elas, velozes e sombrias, permanecem no hemisfério divino dardejando volúpia, sucumbindo áquele crepitar de chama estonteada que sorri por ainda não ser alvorada. E eu também sorrio porque, com a noite, sou mais do que um zé-ninguém! Ah que tenho em mim os sonhos pela loucura conduzidos enquanto deixo a imaginação febril matar o aborrecimento com pesadas estocadas. Não! Não me levem para a cadeia pois o tédio é a dor da alma e nada melhor do que enriquecer com a descoberta daquelas belas paisagens enlouquecidas. Afinal, a vida é mais do que todas as joias e metais preciosos que se possa ter e preferia ser pobre se só assim pudesse libertar a alma! Ahhhh Quero lá saber o que o povo diz! Que se segure à luz do dia, que vá pelo mesmo caminho, pois eu vou pelo meu porque, se sou assombramento, o descarrilar de terra nas montanhas do pensamento, vivo mais por mim, pelo que penso, sinto e escrevo... Sim, vivo mais pela Arte cuja magia não tem fim!!!
Tive um dia alucinado e, por isso, estou demasiado cansado para escrever qualquer coisa de jeito... A verdade é que hoje caminhei sobre brasas, sustive a respiração devido ao fumo, gritei com o raio dos trabalhadores que estavam a arranjar a estrada pois quase que ficava surdo devido ao barulho das máquinas e até tropecei num pedregulho maior que talvez tivesse sido deixado de propósito para me chatear. Claro que cai e magoei-me, tendo quase de ir para o Hospital devido a várias escoriações!!! Caramba! Até parece que me ouviram a discutir com o dono do bar da esquina!!! Tenho lá culpa se foi eu que arranjei o abaixo-assinado de modo a alcatroarem a rua onde vivo e, enfim, tal aconteceu no dia de aniversário do dono??? Era preciso ele obrigar-me a pagar a minha dívida antes de lhes vender as cervejas que queriam???
- Alto aí! Quem és?
- Sou apenas um aventureiro que não se mantém por ninguém!
- Se vens aqui tens de te submeter à lei deste lugar!
- Então volto para trás e vou por outro caminho!
- Custa-te submeteres à lei? ...
- Sim!
- Porquê?
- Porque nunca estou do lado dela! ~
- Então, isso só pode significar que és um criminoso! Estás preso!
- Não, não o sou! Sou apenas alguém que idealiza mais do que outros!
- Não segues a lei, então só podes ser um criminoso. É tão fácil saber isso quanto se sabe que sem comida e bebida ninguém sobrevive.
- Sou um filósofo. Isso é ser criminoso?
- Sim, é, quando não se segue a lei. Mas diz-me... Porquê é que te custa isso?
- Sou um príncipe! Vivi rodeado de patetas, capangas da sociedade normalizada por regras insensatas, machos e fêmeas de índole submissa que não sabiam o que é seguir um caminho sem ter outras pessoas à frente. Que me importa estar numa carruagem de idiotices se eu, a luz cicatrizada, tenho ideias que vão além do que acham certo? Se me ordenarem algo que não está em conformidade com o que penso ser certo, grito: "Onde é que está a justiça?" Se me pedirem sangue, esmurro-lhes até sair do seu corpo esse líquido precioso. Se me pedirem dinheiro, faço um furo nas suas carteiras, ponho-me a contar as moedas e enfio-lhes na boca. Se me pedirem a minha terra, cavo uma cova para eles, tendo o cuidado para tapar cada oríficio do seu cadáver. Como ser pensante, ovelha de ninguém, faço o possível para fazê-los cair, beijar as minhas botas como bons escravos que deverão ser. Se tiver necessidade até poderei verter na sua boca a água que se guarda dentro de mim. Afinal, se se afogarem não me importo, o importante é que seja eu o último a morrer...
- E porque pensas que não morrerás primeiro? Ah, maldito! Por tudo o que disseste, estás pr...
- Oh ser desafortunado, porque a minha faca encontrou o teu pescoço...
Sou demasiado funesto para o sol! Tenho aquela desgraça bem disfarçada que é sorrir mas, por dentro, queimo a alma com os ácidos tão necessários à minha arte, aqueles devaneios vomitados de um qualquer negrume estupidificante que muitos podem não entender mas que afunda qualquer comentário menor com que possam vir. Afinal, imagino demasiado as patetices e irreverências de qualquer solitário que, tal como eu, pouco se importa com o palpável quando é nos sonhos que mais se mata. Sim, também se cria, tem-se aquela vontade de não se deixar de lado a Primavera, mas é quando ninguém nos pode ver, ouvir e tocar que nos sentimos livres. E eu, saído ainda há pouco de um sono reconfortante, comecei a sorrir quando me lembrei que tinha acabado de destruir um universo. Se sou culpado? Ninguém me poderá incriminar pois são apenas palavras, certo? Não há testemunhas, não há provas, não há nomes, não há sequer a certeza de que esse universo tenha alguma vez existido! É tudo a minha imaginação ou se calhar sou apenas um louco, certo? Um escritor... Um louco... Ah! Tão bom ser de ambas as coisas um pouco, poder isto fazer e aquilo dizer sem nada temer! Por isso, sorrio, esfrego as mãos e anseio por mais um sonho. Talvez nesse possa sentir a carne de uma vítima, talvez tu que lês, ser rasgada pelas minhas mãos, beber um pouco do seu sangue, pintar-me de outra cor... Gritando, talvez dê a conhecer que não é o crepúsculo que tem força, que não é a súplica que desarma mas que aquela fatalidade de estar aborrecido, nada mais ter para fazer, impulsiona a minha mente a desvirtuar a normalidade. Impregnado pelo fétido odor da morte, serei carrasco, assassino, vampiro, um delirante adivinho que se espalha como febre por sonhos assombrosos e de certeza que todos os esqueletos daquelas pessoas que já matei dançarão à minha volta. Afinal, ser rei, senhor dos meus próprios sonhos é uma maior alegria do que todas as irritantes blasfémias, errantes tonalidades e afogadas esperanças, que surgem nesta realidade.
Ser de uma lágrima e de um sorriso, ter aquela gentileza divina que as nuvens tão bem conhecem, deixar o coração bater mais rápido, a alma dançar apaixonada, rasgar o tédio ouvindo o vento cantar, pedir que brilhe para mim aquele delicioso luar, consentir a liberdade de uma chuva miudinha, reconhecer que sou um conquistador mas que sou também um conquistado! Oh! Ser poeta afortunado, embora por vezes escreva os sentimentos entorpecidos de um naufragado, levantar-me boémio e triunfante, repetir cantigas sem reparar nas virtudes, envolver-me numa carne deliciosa sem me importar com o desfecho, gemer enlouquecido por saber que a felicidade está tão perto, que tudo o resto nada importa, é um deserto, o paraíso iniciando-se com o primeiro beijo que aquela que amo deu a mim! ♥
Hoje, consegui um sorriso! Só precisei de incendiar a alma com um pouco de encanto, dizer àquela dor de cabeça, que tanto já me aborreceu, que hoje não me interessava para nada, apertar as bochechas para que ficassem avermelhadas, esfregar os lados do nariz com os dedos indicadores, saltar durante meia-hora, correr quinze minutos, fazer algumas flexões que quase me arrebentaram os braços, fazer uns ...abdominais que quase fizeram com que a barriga se encostasse às costas, cantar um misto de ópera e death-metal (nada de death-core... só se for death-pera), sentar-me e tocar a minha bateria imaginária durante uns vinte minutos, levantar-me e fazer headbanging, depois, claro, veio a vénia, o vento, a chuva, a roupa completamente molhada, o fugir para casa de modo a tomar um banho quente e mudar de roupa, o deitar-me na cama, abafar-me com o lençol e cobertor, o tentar dormir, o conseguir dormir, o sonhar com bobos da corte, cavaleiros, damas e dragões e... Bem, já riram? É que agora é a minha vez de sorrir... :)
Não me importo com o estado das coisas! Há sempre diamantes que reinam acima das futilidades, glórias que se espalham além das dores, vontades que brilham sem convidarem a negritude de tudo o que magoa o coração... Por isso, vou-me daqui e desenharei um sorriso nas nuvens para que todos saibam que sou feliz! Talvez assim já não me atormentem com comentários excessivamente absurdos e os meus olhos já não conheçam as lágrimas.
Sou, seguramente, tão estranho quanto a chuva que aparece logo após o sol se esconder... Tenho aquele jeito tão especial de escrever algo que transforma uma folha em virtuosidades enlouquecidas que fazem as dores de cabeça parecerem brincadeiras no jardim do paraíso. Aquele onde os outros dois não existem, onde a Natureza é brilhante, a fulgurosa majestade de uma música que ludibria a alma e sacia a solidão. Pois... sou tão traquinas que, ao passear pela floresta num dia de Outono e ver, ao longe, dois montes, imagino... as reconfortantes ondulações que o mar dá a todos a conhecer e aquelas outras com que a minha amada me presenteia. E, se me deixo levar pelo seu toque, é porque não há maior glória do que sentir o seu amor, a radiosa alegria por saber que, podem vir sombras, tormentos, maldições e a mais desprezível nostalgia, tudo isso desaparece ao descobrirem que, se sou dela, minha ela é! O mundo não importa, o tempo muito menos, a vida é um grão de poeira nesta magia que nos abraça, a elegância de uma maravilhosa verdade onde o sorriso é a a nossa pátria!!!
Com muita pena digo que não sei o que dizer!!! Sim, por vezes isso acontece e esses são momentos em que o melhor a fazer será dormir, esquecer a vida e sonhar ou... hummmm talvez deva ficar acordado e brincar com a mulher que já marcou o meu corpo. Pois, a vontade de soldar a carne é uma riqueza que se quer profunda e nunca disseram que eu detestava cavernas! Aliás, adoro esse beijo que abre comportas, que ambiciona gritos e façanhas, que rasga tempestades e manhas, que desmancha a palidez e blasfema contra a languidez! E, no entanto, perco-me em demasia, regido pela convição de que a luxúria é uma porta para a sabedoria e que eu, poeta inusitado, trago fúria como bálsamo, alegria como penhor e a agradável esperança de que o tédio já não me tenha amor! Porque tudo isto é monotonia e eu, ávido e sem melodia, um planger cacofónico, uma ruidosa devoção, embriagado por frases sem qualquer apetite, a insolência bucólica que desprestigia as cidades... sou um trago de escuridão! Não tenho maldade, sou apenas o que podem considerar um dos terríveis que pensa e sente, convence e desmente, pondera sem alguma vez estar contente e... Basta!!! Implacável, deixo-me dessas dores pois, vez ou outra, estas surgem como espadas e espinhos, negros rochedos e desavergonhados labirintos que devoram a alma que não tem luz. Talvez deva pedir que a chuva caia e banhe este recanto amaldiçoado pela sociedade que me entorta os dedos, enlouquece a alma e desvirtua a poesia com a pujança de um olhar infernal. Pode ser que assim relaxe o suficiente para que a vida não me aborreça e acabe a noite sem a condição que todos querem que eu tenha. Aquela que é ser... normal.
Conto-vos uma história mirabolante de um extasiante malabarista que usava roupa extravagante e maquilagem brilhante. Este, vez ou outra, dançava com garrafas, bolas e taças sem alguma vez as deitar ao chão. Umas continham vinho, outras ar e as últimas cerveja. Não sei de qual é que gostava mais, no entanto, não passava uma noite sem que dormisse com a mulher que amava. Sim, eram sonhos a pernoitar na sua cabeça porque o malabarista, tão cansado estava de trabalhar todos os dias para ganhar uns trocos que nem sequer tinha tempo para cortejar. Assim, ganhava dinheiro de dia fazendo os outros divertirem-se e divertia-se à noite como se fosse isso o mais belo viver. No entanto, pouco antes de acordar, o extasiante malabarista tinha sempre aquela lágrima que é saber que era tudo um sonho, que a mulher que amava não estava mesmo ao seu lado, que o dia iria começar e, com ele, a máscara que teria de usar. Chegou o dia em que, tão velhinho e cansado, foi para o céu. Aí, todas as pessoas que se tinham alegrado com a sua arte, e que já tinham ido para esse lugar, se alegraram ainda mais porque sabiam que iriam ter a companhia do extasiante malabarista. Este alegrou-se muito mais porque sabia que a mulher que amava, e que o amava também, estaria consigo para toda a eternidade.
Na tua cor faz falta o sangue, faz falta a vela que na alma seja ardor. Sou, de resto, o menos importante quando és tu que cais latejada, a sombra rindo por mais uma alma desanimada e um pobre que padece da perda que é já não ter fervor. Talvez me agarre à noite, talvez uive todos aqueles lamentos que imperam na minha alma, para que haja um sorriso, um breve momento de perdição, que me traga o paraíso e não me deixe em maldição. No entanto, se eu continuar a ser um poeta caído, que bravura encontrar nas palavras toda a loucura que exalte o ébrio enfeite, que transpire a luxúria desta carne que se mete num lugar tão perto do coração!
Chora leve, amargamente, como se concordasses que não sou daqui. Suspira, atormentada e carente, fabrica as lágrimas que não sentes em mim. Talvez este sorriso seja preciso numa noite maldita em que a dor é mordida e sente a bravura do meu calor...
Apetece-me discorrer sobre a vida, quebrar em milhentos pedaços todas aquelas sombras qie fazem cócegas, até começar a planar sobre as dúvidas que riem. que riem? Sim, elas bem sabem o que me faz pequenino. Pena é que não sabem que o sarcasmo nasceu comigo. ;)

Por caminhos arcanos errei - 4º livro - Vídeo