quarta-feira, março 03, 2010

La douleur vivante

La douleur vivante! Sim, é esse o meu verdadeiro nome! Restos de mágoa enlouquecidos pelo vão troar de gotas flamejantes que se perderam no ocaso de estruturas arruinadas, sem energia, sem chama, sem… nada! Sou eu e esses incontáveis pedaços de desespero…
Não sei quantos erros já dei, afinal, nunca achei necessário conta-los… Os anos, esses, simbolizam as agruras, os defeitos, os delírios incontornáveis que toldaram a minha alma. Trinta mil facadas no meu peito que aniquilaram qualquer resquício de inocência que me restou após o nascimento. Não sei quantos mais anos viverei mas, neste momento, isso é o que a consciência me dita. Afinal, porque ser perfeito?
Acordei para este mundo imperfeito numa quarta – feira ensolarada, sétimo filho de uma linhagem há muito criada pelo latim de outros tempos e pelo leito gracioso da Natureza. Nunca pedi muito da Vida mas esta também sempre pouco me deu embora nunca fosse algo que correspondesse ao que ardia na minha alma…
Desde há muito que me incomoda saber que o Tempo passa… Sentir que tudo o que me alegra murcha, desaparece, morre com esses dias que caem como pedras vulgares dentro de um lago profundo, nunca vindo à tona a não ser com a palidez das recordações.
Odeio saber que, aos poucos, morro… Sim, já me soube louco numa altura muito difícil da minha vida, uma altura pior do que esta que vivo agora pois, nesses dias já idos, vivia em solidão, sem conhecer o conforto de uns braços que amparassem a minha queda no poço imundo da angústia.
É nestes momentos que sonho com a floresta da minha juventude. O reino de magia onde era hóspede e aventureiro, inocente riqueza que me percorria a alma suplicando a descoberta de outros horizontes, de outros seres que não temessem a noite, que me despertassem e estas lágrimas, tão odiosas, em queda deixassem…
Já há muito que não sei rezar… As palavras perderam-se ou foram diminuindo de significado pois, conforme os minutos contavam, todas elas quiseram dizer-me adeus. Tenho apenas esta sina de olhar em redor, ver tristeza em tudo que toco e nada poder fazer para sorrir. Afinal, já murcho pela idade, a minha alma conhece nada mais do que cavernas de paredes lacrimejantes.
Desde tenra idade que me vi sozinho, amparado por sonhos e desejos que banhavam a fadiga e deixavam todas as maravilhas de lado. Muitos afastavam-me por saber-me estranho, como se tudo na Vida não o fosse aos olhos de uma criança que sorri sem um outro sorriso a paz lhe conceder.
Cresci… Tudo ao meu redor se modificava e até eu parecia possuir outras propriedades que todas as crianças perdem ao se afastar do seu dia de nascimento… Estranho como sempre pareci, nada havia em mim que atraísse aquelas que o coração soube conhecer… Apenas os olhos diziam a beleza que na minha alma existia e, no entanto, ninguém parecia querer tempo em tal coisa perder…
Cresci… Demorei em a Vida encontrar, percorrendo tempestades e esperanças vãs, tendo apenas um sonho que me fazia a existência desejar: encontrar a paz no Amor…
Com os olhos postos no mar, vendo carícias de ventos e ondas, relembro o dia, muitos anos atrás tinha eu 20 anos, em que conheci a alegria que sempre guardei no coração. Neste exacto lugar me encontrava e, embora fosse Verão, sentia-me desolado como toda a minha vida até então.
A sua beleza tinha conquistado a minha atenção no primeiro momento que a vi e mal ofereceu a sua voz para me dizer “bom dia”, o meu coração recusou-se, desde então, a viver inteiramente para outra mulher.
Conquistando a timidez, guardando-a bem fechada no passado, deixando cair a sombra que ensurdecia o desejo de falar, troquei palavras de encanto, as mais doces sendo dela, as minhas, toscas pérolas de espanto…
O seu nome tinha nobreza como antiguidade, o perfume estonteante da Natureza enlaçado pelo cordel de mil beijos em flor, o fervor de um fogo que acariciava a alma de quem a conhecia, a sensualidade de um bem que tanto de devoção e desejo concedia.
Parecia que já a conhecia desde sempre, o seu sorriso embalando-me nos recantos mais apaziguadores que a paciência poderia permitir. Viva há menos tempo do que eu, não deixava de ter uma alma mais madura do que este sofredor que sempre torceu os dedos de nervoso aquando de novas e diferentes situações, incómodas para quem desejava percorrer o mesmo caminho monótono e confortável desde que nasceu…
Perdi-me sem receio na sua beleza, tendo sido deixada esperança, após me ter dito “até amanhã”.

1 comentário:

Daisy Libório disse...

Por mais penumbrosos e enfadonhos que sejam os dias, nestes que de positivo vibram apenas as paisagens verdes e as veredas em nossa própria consciência em quietude, há todavia, surpresas que o destino nos traz com o vento: depois de horas e dias intermináveis, surge-nos, aos olhos, um novo Sol - arauto de outros tempos, onde a esperança não teima em findar-se.

Gosto muito de suas palavras ("imenso" como vocês falam aí...srsrsrs)