quarta-feira, março 03, 2010

Por um sorriso e uma voz...

Já a palavra sufocava e o agreste pintar das lágrimas roubava o espaço vendido à luz, o sorriso feito torto pela máscara enquanto as pernas fraquejavam e os segredos pela brisa bailavam. Ao escrever a liberdade, tombava nas memórias…
O meu coração desejava gritar! A primitiva seta apontada ao infinito tentando alcançar a harmonia, o plácido recanto onde todos os medos e dúvidas caíam rumo a um abismo sem fundo, cujo nome nunca foi permitido saber.
Era uma tarde e os momentos eram de paz… A sensação de ter encontrado os teus lábios e sentir a sede findar, revendo no corpo a entoação da alma, a carícia que se pretendia escondida, que se soltou, que levou as mãos já húmidas a rodear a cintura de cada um. Éramos quadros de cores garridas e, infelizmente, sentíamos as nuvens já sombrias tocando os segundos que nos separariam…
Suspirava… Ver os teus olhos iluminar toda a escuridão da minha alma. Aquela que, durante anos, era sempre da cor de um negro morto e que de nada da serenidade parecia conhecer. Afinal, sempre me cortaram na Vida, o sangue vendo-se liberto de todo o descanso que as horas de sono deveriam trazer.
Ao teu lado, vivia instantes de beleza e sentia que poderia isolar a obediência à tristeza, a face teimando em corar perante as verdades do meu coração que dizia:
“Am… “
E calava-me…
A minha procura não possuía espera e apenas mantinha o silêncio porque não havia tecto onde me abrigar, vento por onde voar e apenas a chuva me abraçava enquanto fosse vivo. A memória parecendo uma gravura que duraria milénios por não haver traços mais fortes que a sedutora imagem que a ansiedade pintava… os lábios onde os meus desejavam morrer…
Era uma tarde e os momentos eram de paz… Respirávamos os suspiros que é a febre, a singular proximidade que é essa tão íntima electricidade tantas vezes pobremente copiada pela doce Arte… Tão pouco tempo e já a Eternidade, em outras vidas, nos tinha juntado, engolindo-nos o desconhecido, os sonhos que nem a curiosidade parecia conhecer.
As horas passavam e os sorrisos tinham já os soluços de uma eterna separação, as vozes caindo dos tons outrora vivos para os ocasos que são os atropelos pelos vales da angústia e da nostalgia… Muitas vezes nem sempre o saber que um outro dia haverá, traz poesia a um deserto…
Ver-te partir, levando o sorriso e a voz, a minha alma e coração, deixou-me em tons vazios, apenas um livro como companhia que as gotas de dor impediam de cair. Os meus pensamentos continuaram no teu sorriso, nos teus olhos que os meus observavam enquanto a mão se tinha paralisado e se quedava centímetros acima da tua.
Sentias o meu desejo de te abraçar?
Sentias a minha vontade de te beijar?
Sentias a minha loucura de fazer o mundo desaparecer?
Tomar as palavras que ao meu ser arrepiam, que a ti suavemente acariciam desde aquele instante que vimos como os olhos sabem sorrir. Com o dia e com a noite, criar uma casa só nossa e, suavemente, nos braços de cada um, adormecer…
Era uma tarde, os momentos eram de paz… e a minha alma estava em guerra! As lágrimas, o sofrer, tentar não haver mais… O sonhar e a outra palavra que tão bem rima…

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