quarta-feira, abril 14, 2010

A sinfonia do abandono

Sou mestre…
e como peste vagueio sozinho, perdido, desanimado,
os meus passos sendo réplica de solidão detestada.
A pútrida corja que forma indecorosos pensamentos
sendo rasgos de dor, banalidades e lamentos
pelas lágrimas de uma vida amaldiçoada.

O fogo que me queimava já lá foi
e aqui nada possuo de benévola santidade,
apenas aquela carência que ruge a cor de triste nome,
a conquista de um lugar no trono da maldosa infelicidade.

E assim chove nesta vastidão em que me encontro desleixado,
a pronúncia de uma tempestade que me corta o coração.
Chora-me a derrota em sombrio e solitário pecado
que impede o sorriso de vencer a morte sem paixão
porque sou toda a maldição que quiserem,
só não sou um deslumbre libertado.

Faça o que quiser, caio e ainda sou mestre…
e tal como a peste, um trilho sangrento resvalando a negra melodia
por uma alma aterrorizada onde a ode não tem lugar.
O arrepio tornando-se a mancha que devora,
a sinfonia já quebrada por falta de um miserável…
ahhhh quem me dera que fosse um despertar,
mas é apenas a ensanguentada Morte que grita para depois me beijar.

O meu caminho é tão negro como a mais profunda das águas,
para sempre a pálida vítima de uma agonia enriquecida.
Os meus sonhos trilhando as trágicas mágoas de uma noite passada
onde a dor dormiu cansada, a saudade nunca mais adormecida,
onde a merda de uma rima jaz no meu coração em pus desvanecida.

Na mesquinhez da vida, sou a penumbra personificada,
um cego murcho pela inquietude sem razão,
tímido esboço em que a alegria nasceu petrificada,
onde a inocência não teve caridade nem perdão
pois sou mestre…
O mestre da sinfonia cortejada pela envelhecida desilusão!

De um gélido e amaldiçoado grito

Daqueles ousados calafrios que a sombra inveja,
do fogo incolor de um recanto amargamente desbravado.
dos prantos de mil dores que a solidão não deseja,
surgiu a pobreza, perdeu-se o encanto adorado.

Entorpecido pelo mais doce sofrimento que o peito queima,
resguardado daquela virtude que era sentir a inocência amar.
Dos olhos a lágrima caía enquanto da luz o calor fugia
porque a alma só tinha cinzas e saudades a queimar.

Sem encanto, sem paixão, sem esperança a adoçar
a vida, triste e indelicada sina a acariciar os meus lamentos,
dava os meus frágeis passos enquanto a doença amaldiçoava.
E eu… tão só… em confusão morrendo ainda cantava.

“Tortura-me a noite,
a miserável calúnia que nem os espectros quis perdoar,
que berra tristeza e ri como a velha dona de uma altivez caída.
Tortura-me o dia,
a peça já fria que nem para o meu drama tem um feliz final,
porque os males já mortos são folhas de Inverno que entram num beco sem saída.”

O meu adeus a toda a felicidade desprezava a beleza
e o pensamento era apenas um abismo caído em meio ao tormento.
Suportaria eu a vida adormecendo em meio à amargura?
Não sabia… Apenas via o meu sangue conhecer a brisa
e a respiração ser um vil e ténebre desfraldar
das velas de um reles barco prestes a partir
enquanto a dor... Ah! A dor me iria naufragar...

Desculpem, lamento quem me lê e me conhece…
A luz que antes havia em mim fugiu porque a escuridão tem fome
e eu sou agora o vazio sem vontade
neste labirinto perdido em que a minha alma nasceu.
Mas não se preocupem!
A morte, doce morte, deste fardo me irá levar,
se a vida, que antes existia em mim, já não morreu...