sábado, março 13, 2010

Penumbra

Fui fantasma numa outra vida, fogo sem chamas a arder,
salteador empobrecido, dolosa página esquecida, riqueza de pobre a morrer.
Ditei cansaço com os meus lábios, realidades de passos revoltados,
sofri nas mãos dos repelidos, para ser dos feios o adorado.

Fui a febre de vis loucuras que mereceram desilusão em versos cansados.
A arte de seduzir e, quem diria?... a tortura do pecado…
Adormeci sozinho e de madrugada acordei acompanhado
por seres terríveis, pesadelos inesquecíveis, os queixumes de desprezados.

Fui proibido à Primavera por ser tudo menos fértil alegria,
por ter nos olhos caveiras, vaguear por cavernas que nada tinham de beleza,
apenas uma gélida e profunda tristeza que murchava qualquer riqueza.

Assim, meus passos tombavam em pântanos de cansaço inebriante,
de volúpia por atmosferas irritantes onde já nada existia,
onde, se caísse, morria tal como o cego que já viu um dia.

Sem forças, sou flor já morta ao anoitecer…
O ridículo que impregna os jardins com piores pecados do que sonhar.
Sou manequim, boneco sem fios, privado de desafios,
abominável perante as estrelas, príncipe de becos sem saída,
enclausurado perante a mais reles vida…
Liberdade?
Impossível tê-la pois não a sei merecer!

1 comentário:

Daisy Libório disse...

Ohhh

entre os seus, um dos mais lindos que já li!!!

Maravilhoso!

Uma alma solitária que se impõe, sem negar sua natureza, sua realidade...

bjs na alma!