Pintei os meus dias com as lágrimas da tua perda, o desenlace de memórias já idas que ainda me sabem aquecer com quem já não tem luz. O mar sempre foi a tua casa, a tua sina, um enorme jardim de novidades que pecava apenas pela amarga distância que desenhava.
Lembro-me de sermos crianças, de percorrermos a praia de São Tiago com os nossos pezinhos rosados brincando e sorrindo como quem não conhecesse outra vida. Sim, havia fome, mas estar ao teu lado fazia-me feliz. Afinal, que dizer do amor que nasce tão jovem, da ansiedade de ver os dias passar e ter a oportunidade de estar junto a quem a alma diz mais do que tudo o resto?
Passávamos noites observando as estrelas, fugindo da ânsia de se ser escravo de uma ordem natural, tomando apenas fôlego no ar que cada um respirava, libertando o desejo, tesouro mais valioso do que qualquer furtivo beijo. Cedia-se carícias ao desconhecido, palavras soltas que cada um arriscava tomar como suas, inflamando o peito com um sentimento mais valioso do que qualquer tesouro.
Tiveste de te afastar da escola para seguir as ondas do mar, mas o professor que tudo me ensinou, deixou-me vaguear pelas ondas dos seus livros, a inspiração de outros anos que perdurava no papel amarelecido das memórias. Aí encontrei, nos momentos de ócio, outros mundos que esta ilha jamais me poderia dar, embora soubesse que apenas o teu coração, apenas a tua alma, apenas os teus lábios sonharia para sempre tocar.
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