domingo, julho 07, 2013

excerto de "Os lamentos que a alma invoca"

Perdoem a minha falta de humildade e vejam as seguintes palavras como aquelas que surgem de um homem que se “perdeu” em divinas paisagens que foram o seu berço e, espero eu, o seu leito de morte. Se existe algum paraíso na Terra, este será, pelo menos para mim, o que mais direito possui, pois revela todo o significado da palavra Beleza, quando a pensamos no mais doce e profundo que contém. Afinal, não será a Beleza, a eterna deusa dos homens que procuram inspiração nos inocentes recantos deste nosso mundo? Oh! Quanto eu daria para que houvesse muitos mais paraísos na terra, pois, se algum dia Woodenthrone morrer à custa da ganância do Homem, perder-se-à a inocência de gloriosos tempos e uma nova e trémula alvorada nos esperará.
Embora o fenómeno da beleza ainda paire na minha mente, a minha alma contém ainda aquela estranha sensação que é sentir uma outra realidade pairando como um velho abutre que apenas sobrevive à custa da morte de outrem. Desculpem esta tão brutal queda após vos ter agraciado com tão sublimes adjectivos acerca da região onde nasci mas, tal como o dia termina, também a noite tem de começar. Como poderia suplantar a Natureza e dar-vos um tão grandioso espectáculo tal como o pôr-do-sol se um simples humano sou?
Já alguma vez se fartaram do mundo agreste que o ser humano criou? Já alguma vez ousaram enfrentar todas aquelas sombras que nos fustigam com medos, em simplesmente desejar conhecer? Lembro-me, talvez com um estranho sorriso, dos momentos em que o velho Grimm, mordomo do meu pai, tornava as noites de tempestade ainda mais aterradoras com os seus contos de seres perdidos nas sombras, maldições eternas, demónios que aterrorizavam aqueles que eram descuidados. Não sei se me contava tais histórias devido a um secreto desejo sádico em aterrorizar-me ou talvez tivesse um outro objectivo menos lúgubre e pretendesse apenas entreter-me, no entanto, enquanto crescia, sentia-me cada vez mais terrivelmente fascinado por essas histórias que exercitavam a imaginação e as emoções terrenas. A partir de um certo ponto da minha vida, deveria ter uns 16 anos, comecei a escrever sobre tais tópicos. Muitas foram as histórias que desde então escrevi e dei a conhecer ao mundo devido ao ímpeto de procurar a verdade além desse véu que nos confunde e aflige, chamado Vida. No entanto, aquela que vos vou narrar, surgiu na primeira metade do Sc. XIX e poderá ser considerada verídica. Se não me acreditam, peçam a qualquer habitante desta região que vos conte a história de John Reeves. Saberão então que um escritor pode criar do nada mas, por vezes, relata a verdade.

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