À noite, não há silêncio que me queira embora desdenhe as
sombras que me pedem ajuda porque me fartam as esmolas de irmandades pútridas e
sem qualquer riqueza! A alma, como se nunca tivesse sido jovem nem conhecido o
prazer de um estonteante calor, é pintada com um cinzento-dor que lembra a
angústia de promessas deixadas ao sabor de um reles vento, estas esvaziadas da
sua glória pelos lamentos de fantasmas sem moradia.
Aqui, neste
reino que não conhece qualquer harmonia, troco tantas palavras com a pior das
loucuras e perfuro o céu com gargalhadas porque não me interessa o que tenha a
ver com o tédio, o que rima com a luz, o que professa beleza, encanto ou
subtileza. Pois… Nada que interessa ao pudor me pode vestir pois já há muito o
meu íntimo cedeu ao delírio que é nunca adormecer e eu, parco em orações,
conduzo as nuvens a esconder o sol e a inocência. Que me importa o seu brilho
se nada têm de valor para quem conhece mais da escuridão?
Para que
saibam, nasci entre demónios e poetas, cedo conquistei a luxúria com o descalabro
dado a quem professa a sua glória entre os mortos e converti os sonhos de
inocentes em pedaços entorpecidos de um só inferno. A minha caminhada, sendo
aquela de quem não é servo de reis ou rainhas, de profecias ou dúvidas, mas de
quem pretende o desbravar da terra humedecida pelas lágrimas de quem já sofreu.
Hum… Talvez pensem que tal seja apenas uma demanda dada aos espectros mas,
hoje, o quê sou eu? Afinal, o meu nome vagueia entre os vermes e depravados, a
minha voz é ouvida em milhentos banquetes onde o asco e a podridão são
celebrados, as minhas pegadas podem ser vistas entre tristes ruínas e
detestáveis memórias.
Oh abominável
encanto que é proporcionar a existência com o mais reles desejo! Sempre o quis
esquecer com as palavras de quem peca de mundo em mundo, de quem é demasiado atroz
para com quaisquer sorrisos, de quem padece de deformidades que lembram as
convulsões de redemoinhos sem fim. Se tenho os trejeitos de quem já está morto,
é porque todo o sangue que antes corria nas minhas veias é agora um rio e o
desconhecido, aquele mar que bebe de mim.
Jorge Ribeiro de Castro
(declamado aquando do Sarau MadCake Halloween no dia 31/10/12)
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