Apesar de não pertencermos às forças da Lei, Jonas entregou a mim e ao meu pai duas espingardas e levando connosco a coragem e a vingança lá fomos em direcção a onde tinha visto os dois malditos. Como não conhecia qualquer outra entrada para a caverna, embora de certeza devesse haver, decidimos não perder muito tempo a tentar encontrá-la. Além disso, entrando por aquela parte que conhecia, de certeza que os apanharíamos desprevenidos e assim mais facilmente os levaríamos à Justiça.
Cautelosamente, deixamos os cavalos um pouco mais longe da entrada da caverna e fomos a pé até ao lago. Aí, descemos a margem com o máximo cuidado e penetramos aquela protuberância rochosa que era o covil dos que fugiam à moralidade, um dos nossos tendo uma lanterna para guiar os passos que déssemos.
Era Jonas quem ia à frente, secundado por um homem mais novo mas de forte constituição e que parecia tão ansioso quanto eu. Ao longe, ouviam-se vozes de homens que se misturavam com gargalhadas e um choro de mulher, Elizabeth, que, a uma ordem dada por um deles, parou a sua melancólica dissertação.
Ao ouvi-la, quis aproximar-me o mais rapidamente possível mas o meu pai agarrou-me no ombro e, apertando-o, disse-me para esperar. Só os céus sabem o quanto tive de me controlar para não correr até onde estavam e vingar os justos… mas esperei, o coração batendo mais rápido, a respiração mais difícil.
Temendo o pior, percorremos o espaço que faltava até chegarmos a uma sala interior. Escondemo-nos atrás de uma grande rocha e foi daí que pude ver os dois que tinha visto antes conversando. Enquanto estes estavam de pé, cinco outros homens, que davam à infame corja um ainda pior nome, estavam sentados um pouco mais à frente a beber o que devia ser whiskey como se fosse água. Elizabeth estava encostada à parede, os joelhos encostados à cara enquanto os braços os rodeavam como se quisesse se proteger e esquecer o que lhe tinha acontecido.
Jonas olhou para nós e, com o dedo encostado aos lábios, pediu-nos para não fazer barulho. Com um outro gesto, ordenou a dois dos seus ajudantes para se aproximarem dele e, apontando, dispararam para os homens.
De imediato um deles foi morto enquanto os dois outros tiveram melhor sorte ao serem feridos. Os restantes, surpresos pelo que tinha acontecido, depressa tentaram se proteger, qualquer álcool que tivessem ingerido não parecendo ter algum efeito. Gritos de dor e de pânico inundaram o recinto enquanto o homem mais alto dava ordens aos seus companheiros para se apoderarem das armas e ripostar. Estes, conhecedores de intrujices e insensibilidades provaram ser também detentores da lamentável arte que destitui a humanidade da inocência e assim nos fizeram frente como tigres prestes a atacar a presa.
Lutamos bravamente, tentando sobrepor a nossa superioridade numérica à ácida falácia dos trastes que combatíamos mas tivemos a pouca sorte de, poucos minutos depois, um dos nossos ser morto e se estatelar no chão à minha frente, a cara sendo uma mancha de sangue.
O meu pai, homem com mais frieza do que eu, continuou a disparar, tentando vingar a honra do justo que tinha caído, enquanto eu sentia um ataque de enjoo e vómito. Resvalando pela ansiedade, ainda estive uns momentos parado como se de um espectador me tratasse mas, lutando para vencer a desolação e o medo, continuei a disparar contra a corja até que, de repente, ouvi um grito de mulher.
Atónito, pensei que um dos tiros tinha acertado Elizabeth mas quis a injustiça que o destino dela fosse um não menos trágico do que esse.
- A rapariga é minha refém e se não nos deixarem fugir podem ter a certeza de que ela pagará pelo vosso acto!!! – gritou o homem que se chamava Ceryl, a raiva transbordando em cada palavra proferida, o estranho sotaque cortando a nossa língua em trejeitos dissonantes.
- Não!!! – gritei também, o medo assomando à minha alma.
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