domingo, março 11, 2012

Perguntas…


– Deduzo que a inspiração seja fácil de ter quando te vestes de preto.
– Deduzes isso porquê?
– Porque sempre que te vejo de preto, mostras-te taciturno, absorto nos teus pensamentos. Não falas, nada dizes do que te encanta ou corrói. Sais de casa e vais a um bar escrever num bloco. O que é que assentas que sejas tão importante?
... – Todos temos devaneios que pintam a nossa mente, glórias que desejamos, fantasias que nos agarram, encantos que nos beijam, pétalas enevoadas que já caíram, aquela procura incessante por um horizonte menos terrífico do que aquele que se vê à nossa frente, uma lisonjeada transformação da aberração que antes nos trucidou, uma ideia que nos comove a vaguear, uma lágrima que ainda corre, um sorriso que não nos desgrace, a selvagem inquisição de todos os preconceitos, a serenidade em luta contra a triste realidade, a leveza que é deixar de ser igual a todos os outros, a incansável força motriz que é correr descontroladamente além dos grilhões que nos tentam subjugar, um coração que sustém toda a alegria que nos importa, uma esperança que tenta não morrer…
– Escreves sobre isso tudo?
– Não, apenas sobre bife, cerveja e papel higiénico…

(escrito de madrugada, poucos dias atrás, no bar “Eclipse” (Bairro Alto), estando levemente tocado por certos líquidos…)

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