terça-feira, março 06, 2012

À noite e contigo…

Todos temos desvarios, curvas que não sabem como fechar, paredes que engolem as cores do passado, tremores que dançam como se fossem tempestades, cenários que gargalham onde a loucura já há muito entrou…
Eu tenho esta memória, que deslizo em ácido como diálogo provocante…
Se sou imprestável? Oh, apenas tenho as marcas que a vida trouxe, esse abismo que corre nas veias porque a luz que se vê é miséria quando o sonho é uma nódoa que pode ser limpa.
Deixo-me ir…
Eu gosto de me cortar com as palavras que se espalham no chão sem temer que deixem de ser virtudes! Prefiro a depravação, cuspir na cara de todas as tretas que me foram dadas e explodir qualquer universo que os distraídos, aqueles que prometem o que não podem, desejem criar.
Afinal, não tenho qualquer vontade de me desfazer da arte, de provocar qualquer eclipse em mim como se eu fosse uma folha amarrotada, adormecida pela hedionda mesquinhez! Oh! Quando me encontraste, já sabias que eu era um perdido…
Dizia a torto e a direito que a vida é para ser provada por nós mesmos, que não nos devemos julgar mal se criamos tantas personagens, se esbracejamos, corremos, gritamos e fodemos como se não houvesse amanhã…
Não, não há dilemas, combustível ou substantivos que me conduzam a procriar mentiras, por mais luminosas que sejam, na escuridão!!!
Existe apenas a vulgar constância que é me impedir de me ridicularizar, de deitar para o ar qualquer adjectivo que cubra a normalidade. Ah! Eu não quero nada com a normalidade!!! Pouco me importa se existem “cegos”, irão todos morrer vazios…
Monstruosos!!!
Esse é o nome que combina com quem não queira ver além do seu umbigo, aqueles que não são verdadeiros consigo mesmos, que não sabem dizer:
“Descobri que sou fútil.”
Toscos!!! Que não se deixem ser subjugados por preceitos tão ridículos quanto uma gota de chuva, ah preciosidade da Natureza, que não traga outra!!!
Se querem ser sombras, que façam o favor, que deitem para fora tudo o que lhes faz bem, mas, vá lá, que não me queiram levar. Tento ser preciso onde a riqueza guarda o seu maravilhoso desvario.
Sim, é bom ser insensato, tecer artimanhas que podem cair porque a lógica não as consegue aguentar, seduzir os problemas para que essa odisseia, que é naufragar, não nos leve a recantos menos libertinos. Será que se deve pensar os passos, sermos guiados pela nossa mente, fazer com que o espírito não possa deambular, que fique acorrentado num espaço tão obscuro quanto pequeno?
Chamas-me…
Esqueço a confusão…
Prefiro a ti…
Neste momento, tal como em muitos outros, gosto de cortar a placidez com o desejo, de me meter contigo, abrigar-me rodeado do teu perfume, acariciar qualquer suavidade que tenhas, de passar a minha língua pelos teus seios, beijá-los avidamente…
Não há melhor fogo que pudesse ter escolhido!
Por longos momentos, perfuro as tuas águas, aqueço-te com os traços do meu frutuoso esplendor, lembro-te que a tua noite é minha para que nunca te esqueças de deslizar sobre o meu ávido amor!
O teu sorriso e gemidos corrompem-me com a gratidão que é gritar que se tem asas.
Contigo, ninguém me conseguiria prender à terra e assim me elevo e me solto para além do horizonte.
Já em paz, vens comigo…


(texto escrito ao gosto de determinados líquidos numa passagem nocturna pelo bar “Eclipse”, um dos muitos do Bairro Alto – Lisboa)

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