Todos temos
desvarios, curvas que não sabem como fechar, paredes que engolem as cores do
passado, tremores que dançam como se fossem tempestades, cenários que gargalham
onde a loucura já há muito entrou…
Eu tenho esta
memória, que deslizo em ácido como diálogo provocante…
Se sou
imprestável? Oh, apenas tenho as marcas que a vida trouxe, esse abismo que
corre nas veias porque a luz que se vê é miséria quando o sonho é uma nódoa que
pode ser limpa.
Deixo-me ir…
Eu gosto de me
cortar com as palavras que se espalham no chão sem temer que deixem de ser
virtudes! Prefiro a depravação, cuspir na cara de todas as tretas que me foram
dadas e explodir qualquer universo que os distraídos, aqueles que prometem o
que não podem, desejem criar.
Afinal, não
tenho qualquer vontade de me desfazer da arte, de provocar qualquer eclipse em
mim como se eu fosse uma folha amarrotada, adormecida pela hedionda mesquinhez!
Oh! Quando me encontraste, já sabias que eu era um perdido…
Dizia a torto
e a direito que a vida é para ser provada por nós mesmos, que não nos devemos
julgar mal se criamos tantas personagens, se esbracejamos, corremos, gritamos e
fodemos como se não houvesse amanhã…
Não, não há
dilemas, combustível ou substantivos que me conduzam a procriar mentiras, por
mais luminosas que sejam, na escuridão!!!
Existe apenas
a vulgar constância que é me impedir de me ridicularizar, de deitar para o ar
qualquer adjectivo que cubra a normalidade. Ah! Eu não quero nada com a
normalidade!!! Pouco me importa se existem “cegos”, irão todos morrer vazios…
Monstruosos!!!
Esse é o nome
que combina com quem não queira ver além do seu umbigo, aqueles que não são
verdadeiros consigo mesmos, que não sabem dizer:
“Descobri que
sou fútil.”
Toscos!!! Que
não se deixem ser subjugados por preceitos tão ridículos quanto uma gota de
chuva, ah preciosidade da Natureza, que não traga outra!!!
Se querem ser
sombras, que façam o favor, que deitem para fora tudo o que lhes faz bem, mas,
vá lá, que não me queiram levar. Tento ser preciso onde a riqueza guarda o seu
maravilhoso desvario.
Sim, é bom ser
insensato, tecer artimanhas que podem cair porque a lógica não as consegue
aguentar, seduzir os problemas para que essa odisseia, que é naufragar, não nos
leve a recantos menos libertinos. Será que se deve pensar os passos, sermos
guiados pela nossa mente, fazer com que o espírito não possa deambular, que
fique acorrentado num espaço tão obscuro quanto pequeno?
Chamas-me…
Esqueço a
confusão…
Prefiro a ti…
Neste momento,
tal como em muitos outros, gosto de cortar a placidez com o desejo, de me meter
contigo, abrigar-me rodeado do teu perfume, acariciar qualquer suavidade que
tenhas, de passar a minha língua pelos teus seios, beijá-los avidamente…
Não há melhor
fogo que pudesse ter escolhido!
Por longos
momentos, perfuro as tuas águas, aqueço-te com os traços do meu frutuoso
esplendor, lembro-te que a tua noite é minha para que nunca te esqueças de
deslizar sobre o meu ávido amor!
O teu sorriso e
gemidos corrompem-me com a gratidão que é gritar que se tem asas.
Contigo,
ninguém me conseguiria prender à terra e assim me elevo e me solto para além do
horizonte.
Já em paz, vens
comigo…
(texto escrito
ao gosto de determinados líquidos numa passagem nocturna pelo bar “Eclipse”, um
dos muitos do Bairro Alto – Lisboa)
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