quinta-feira, setembro 12, 2013

excerto de "Por caminhos arcanos errei" - o meu 4º livro ( ebook, download gratuito)

"Será que teria a ousadia necessária para levar em frente a missão de desvendar um mistério que me subjugava? Um simples artefacto, como um relógio de bolso, poderia não inspirar muito interesse mas o valor que lhe dava por ter sido o meu pai a oferecer como prova de honra e orgulho (e por conter as fotos dos meus progenitores, não tendo em conta que era feito em ouro), simbolizava um elo que não desejava desprezar.
Em justiça para com a abençoada memória, devia investigar o que podia ter acontecido ao relógio e, se não foi perdido mas sim roubado, faria o possível para que a miséria caísse sobre a cabeça do meu atacante. Apesar das circunstâncias atenuantes que Kirstin me tinha dado a conhecer, um cemitério é um lugar estranho para alguém ainda vivo habitar, não importando a pobreza da sua existência, fosse que tipo de ladrão fosse, a não ser que… Não…. Essa é uma ideia demasiado horrível para supor… Saquear as criptas, desonrar a memória de quem já não vivia, adulterar os túmulos à procura de valiosos saques que pudessem satisfazer a sua ganância. Não!!! Se tinha de acreditar em algo, não poderia acreditar que quem me tinha atacado fosse alguém cuja vida era ainda mais fantástica e iníqua. Não poderia pensar que existia alguém assim tão horrível, sem quaisquer escrúpulos, que não se importasse em respeitar a memória de quem muito passou enquanto vivo…
A dúvida, essa inquieta figura que percorria os meus sonhos como se de um mestre se tratasse, incomodava as minhas divagações enquanto acordado pois sabia que existia nesta região um mistério e esses sempre existem além da realidade a que estamos acostumados. Era necessário raciocinar de forma clara para não me deixar abater por quaisquer ignobilidades que a paisagem e as recordações pudessem induzir. Afinal, precisava de encontrar o relógio pois, sem esse tão valioso tesouro, sentia que me faltava um pouco da paz de espírito de outrora.
Em meio à estrondosa dissonância da tempestade, surgia a absoluta necessidade de adormecer, recuperar forças e preparar-me para as horas vindouras. Apesar de as janelas deverem estar fechadas, conseguia ouvir o som agreste do vento que teimava em resvalar por entre as brechas que cobriam a superfície desta imponente edificação. Parecia o grito de incontáveis almas em dor, a gélida carícia de um elemento que vagueava invisível. Era este o frágil sopro da vida ou apenas uma indistinta mancha no caos que rege o mundo?"

http://www.youtube.com/watch?v=FMZJtz8qWA8

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