Sou, provavelmente, demasiado estranho
para adormecer
neste reino onde os mortais vagueiam.
A minha alma é um palco de batalhas
insensatas
onde as sombras e as dores apregoam
feitiços,
onde as memórias e as feridas regem discordâncias,
onde as tuas verdades e as tuas
mentiras caem pelo meu hediondo riso.
Embriagado,
tenho trejeitos de insanidade e
vocábulos de depravação,
suspiros que são lâminas
ensanguentadas
e gritos que desenterram qualquer
dor.
Deslumbrado,
caminho por estradas feitas de ossos
de quem nunca me pôde ver,
cativo a noite a padecer de males
nunca imaginados
e subscrevo um poema em que só a glória
dos pecaminosos existe.
Sim, traço teoremas mal definidos,
árduos desenhos provocados por duras punições.
A minha arte sendo voos e quedas em
que mal respiro,
feridas e dores que se juntam como
prémios de quem está farto de tais lições.
Sim, há manias a mais no meu fôlego,
talvez porque há mundos a mais na
minha imaginação
e pontes que se ligam de tantas maneiras
à rebeldia,
que fazem-me procurar algo mais belo
do que a simples ovação.
No meu peito, arde a sensação de que
os meus actos
são de uma abominável genialidade que
ferve, transpira e grita.
Talvez seja a noite, o álcool ou a
droga que me impelem a ser assim.
Para uns admirável riqueza, para
outros um palhaço vazio,
e eu, apenas confortado pelo papel e
pela tinta,
em nada disso me fio!
Sabem, muitas vezes escrevo
imaginando-me num patético esgoto.
Aquela habituação que faz o brilho
cair
sendo o bater de um relógio
descompassado
que impele a harmonia a ruir
e desfaz a certeza em filamentos sem
cor.
A minha poesia é arrancada a lágrimas
e lamúrias,
a tortuosa voracidade sendo uma fome
que nunca preenche,
esta tão pérfida, resmungona e
detestada,
que para nada serve e para nada
servirá
a não ser para ultrajar a vida com a
dor.
Podem pensar que estas estranhas
ideias de um suposto altivo
são palavras desgastadas pela
presunção,
mas, para mim, são apenas miseráveis
paisagens descritas por pobres e podres meios
para que a virtude pondere procurar a
riqueza que antes fugiu.
Se esta tinha medo?
Não sei, estou sempre tão além de
tudo que nunca a conheci.
E assim vos digo que muitas vezes me esforço
por ser tanto quanto a alma me pede,
mas muitas vezes sou enganado pela
mais estridente insensatez.
Se algo em mim fede?
Desculpai-me, sou humano.
Por favor, enquanto eu não sair daqui,
que tapem o nariz.
por Jorge Ribeiro de
Castro
(Declamado aquando do Sarau MadCake no dia 08/09/12)
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