Sou, seguramente, tão estranho quanto a chuva que aparece logo após o
sol se esconder, um imbróglio que corta qualquer calma com comentários que vão
além de qualquer lógica, uma presença demasiado óbvia para ser escravizada pela
saúde que é pensar muito antes de falar.
Há quem diga que sou especial, tal me aquecendo por momentos, mas depois
fecho os olhos, penso em tudo de mal que já fiz e digo a mim próprio: “Não! Sou
apenas uma ilusão, visto-me de máscaras e sou descrito como um anjo, mas,
acreditem, muito do que escondo é terrível!”
Apesar dos erros, tento viver em meio à luz, deixar-me levar pela arte
que é não me importar com a mais gélida realidade. Que riqueza tal me daria? Seduzido
desde o nascimento, tenho aquele jeito tão especial de escrever, de preencher
uma folha antes em branco com virtuosidades enlouquecidas, aquelas que fazem as
dores de cabeça parecerem brincadeiras no jardim do paraíso, um onde Adão e Eva
não existem, onde a Natureza é brilhante e a majestosidade do vento ludibria a
alma.
Se os sonhos nos libertam, é a escrita que me impele a viver! No
entanto, a saudade fustiga-me tanto que, ao passear pela floresta num dia de
Outono e ver, ao longe, dois montes, imagino as reconfortantes ondulações que o
mar dá a todos a conhecer e aquelas outras com que a minha amada me presenteia.
E, se me deixo levar pelo seu toque, é porque não há maior glória do que sentir
o seu amor, aquele que faz a carne arder para além de qualquer estrela, aquele
que presenteia e é presenteado, que suspira e é cortejado, que deixa-me afundar
e surgir, libertar e emergir.
Ah! Quando estou ao seu lado, queima-me a radiosa alegria e não me
importam as sombras, os tormentos e as maldições! Este reles mundo nada tem de
interesse, o tempo muito menos, todas as palavras que oiço dissipam-se com os
gemidos de quem amo pois a vida é um grão de poeira nesta magia que abraça, a
elegância de uma maravilhosa verdade onde o carinho é a verdadeira pátria e…
Esperem!
Daqui a pouco acordo…